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Resumos
No presente artigo procuramos apresentar uma possibilidade de leitura das políticas públicas de esporte e lazer no Brasil, amparados nos 🍊 pressupostos teórico-metodológicos da sociologia reflexiva dos campos de Pierre Bourdieu.
Mais especificamente, esse encaminhamento se dará por via da apropriação de 🍊 alguns conceitos bourdieusianos como noções operatórias de análise, quais sejam: campo, habitus e capital.
Deste modo, a discussão se desenvolve no 🍊 sentido de demonstrar a importância de fundamentar uma agenda de pesquisas para área que contemple conjunta e relacionalmente tanto a 🍊 filosofia da estrutura social quanto a filosofia das experiências primeiras dos agentes.
En este artículo se presenta una posibilidad de lectura 🍊 de las políticas públicas para el deporte y el ocio en Brasil, con el apoyo en el campo teórico y 🍊 metodológico de la sociología reflexiva de Pierre Bourdieu.
Más concretamente, las referencias se harán através de la apropriación de algunos conceptos 🍊 y nociones operativas de análisis de Bourdieu, que son: campo, habitus y capital.
Así, la discusión se desarrolla con el fin 🍊 de demostrar la importancia de basar un programa de investigación para el área común, que incluye tanto relacional y la 🍊 filosofía de la estructura social y la filosofía de las primeras experiencias de los agentes.
ARTIGOS DE REVISÃO
Políticas públicas de esporte 🍊 e lazer no Brasil: uma argumentação inicial sobre a importância da utilização da Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu
Public policies 🍊 for sport and leisure in Brazil: an argument about the importance of initial use of the Theory of Fields of 🍊 Pierre Bourdieu
Políticas públicas para deporte y ocio en Brasil: un argumento inicial sobre la importancia del uso de la Teoría 🍊 de Campos de Pierre BourdieuDr.
Fernando Augusto StarepravoI; Ms.
Juliano de SouzaII; Dr.
Wanderley Marchi JúniorIII
IDepartamento de Educação Física, Universidade Estadual de Maringá 🍊 (Maringá - Paraná - Brasil).E-mail: fernando.starepravohotmail.com
IIDepartamento de Educação Física, Universidade Federal do Paraná (Curitiba - Paraná - Brasil).
E-mail: julianoedfyahoo.com.br
IIIDepartamento de 🍊 Educação Física, Universidade Federal do Paraná (Curitiba - Paraná - Brasil).
E-mail: marchijrufpr.brRESUMO
No presente artigo procuramos apresentar uma possibilidade de leitura 🍊 das políticas públicas de esporte e lazer no Brasil, amparados nos pressupostos teórico-metodológicos da sociologia reflexiva dos campos de Pierre 🍊 Bourdieu.
Mais especificamente, esse encaminhamento se dará por via da apropriação de alguns conceitos bourdieusianos como noções operatórias de análise, quais 🍊 sejam: campo, habitus e capital.
Deste modo, a discussão se desenvolve no sentido de demonstrar a importância de fundamentar uma agenda 🍊 de pesquisas para área que contemple conjunta e relacionalmente tanto a filosofia da estrutura social quanto a filosofia das experiências 🍊 primeiras dos agentes.
Palavras chave: Políticas públicas; esporte e lazer; Teoria dos Campos; Pierre Bourdieu.
ABSTRACT
In this article we present a possibility 🍊 of reading of public policy for sport and leisure in Brazil, supported in the theoretical and methodological field of reflexive 🍊 sociology of Pierre Bourdieu.
More specifically, the referrals will be made by way of appropriation of some concepts and notions Bourdieusian 🍊 operative analysis, which are: field, habitus and capital.
Thus, the discussion is developed in order to demonstrate the importance of basing 🍊 a research agenda for the joint area that includes both relationally and the philosophy of social structure and the philosophy 🍊 of the experiences first of the agents.
Keywords: Public policy; sport and leisure; Theory of Fields, Pierre Bourdieu.
RESUMEN
En este artículo se 🍊 presenta una posibilidad de lectura de las políticas públicas para el deporte y el ocio en Brasil, con el apoyo 🍊 en el campo teórico y metodológico de la sociología reflexiva de Pierre Bourdieu.
Más concretamente, las referencias se harán através de 🍊 la apropriación de algunos conceptos y nociones operativas de análisis de Bourdieu, que son: campo, habitus y capital.
Así, la discusión 🍊 se desarrolla con el fin de demostrar la importancia de basar un programa de investigación para el área común, que 🍊 incluye tanto relacional y la filosofía de la estructura social y la filosofía de las primeras experiencias de los agentes.
Palabras 🍊 clave: Políticas Públicas; deporte y el ocio; Teoría de Campos, Pierre Bourdieu.
INTRODUÇÃO
O mapeamento da produção científica sobre políticas públicas de 🍊 esporte e lazer no Brasil é um dos objetos de pesquisa que vem sendo priorizado e sistematizado em nossa trajetória 🍊 acadêmica.
Na construção desse percurso, nossas primeiras constatações indicavam que a produção de conhecimento na área de políticas públicas para o 🍊 esporte e lazer estava quase que exclusivamente voltada ao relato de experiências (STAREPRAVO, 2007; STAREPRAVO; MEZZADRI, 2007).
Essa exposição empírica, por 🍊 brazino777 foguete vez, não se trata de uma condição exclusiva da área de políticas públicas de esporte e lazer.
Segundo Melo (1999), 🍊 a própria área de políticas públicas no Brasil se caracteriza por uma baixa capacidade de acumulação do conhecimento, fruto da 🍊 proliferação horizontal de estudos de caso e da ausência de uma agenda de pesquisa.
Arretche (2003), por brazino777 foguete vez, aponta que, 🍊 enquanto os objetos de análise da área - a ação estatal, o estudo de programas governamentais bem como suas condições 🍊 de emergência, mecanismos de operação e prováveis impactos - estão bem definidos, as abordagens teóricas e os métodos de investigação 🍊 têm recebido uma atenção reduzida por parte dos estudiosos.
Mais recentemente, tendo como parâmetro as publicações do Grupo de Trabalho Temático 🍊 de Políticas Públicas no XV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte realizado na cidade de Recife, em setembro de 2007, 🍊 pudemos perceber um redimensionamento do panorama delineado.
Como traço comum aos trabalhos apresentados, podemos dizer que: 1) a maioria dos artigos 🍊 é parte de trabalhos em andamento; 2) superada uma fase de relato de experiências de gestores na área, passamos a 🍊 ter o predomínio de exposições empíricas, com procedimentos metodológicos bem definidos, mas que, porém, não apresentam um diálogo consistente com 🍊 a literatura; 3) nos trabalhos que apresentam uma maior consistência teórica, os autores adotam uma postura de crítica ao neoliberalismo, 🍊 entendendo que este modelo, em função dos interesses do capital, leva o estado a intervir cada vez menos no âmbito 🍊 social, repassando esta função a setores organizados da sociedade civil (STAREPRAVO; NUNES; MARCHI JR., 2009).
Em termos de orientação teórica, essa 🍊 se desenvolve no sentido de possibilitar prioritariamente o entendimento da macro-estrutura econômica e social, a fim de compreender as ações 🍊 no interior dos programas analisados, bem como suas funções e objetivos.
Nestes casos, a apresentação dos dados empíricos das pesquisas fica 🍊 em segundo plano.
A abordagem marxista nesta condição é predominante e a contingência dos processos políticos é desconsiderada (STAREPRAVO; NUNES; MARCHI 🍊 JR., 2009).
Diante desse quadro ligeiramente evocado e na tentativa de ampliá-lo, procuramos apresentar neste artigo uma possibilidade de leitura das 🍊 políticas públicas de esporte e lazer, amparados nos pressupostos teórico-metodológicos da sociologia reflexiva dos campos de Pierre Bourdieu.
Mais especificamente, esse 🍊 encaminhamento se dará por via da apropriação de alguns conceitos bourdieusianos como noções operatórias de análise, quais sejam: campo, habitus 🍊 e capital.
A propósito, essa filosofia, condensada em um pequeno número de conceitos fundamentais, tem como ponto central a relação de 🍊 complementaridade estabelecida entre as estruturas objetivas (dos campos sociais) e as estruturas incorporadas (dos habitus) (BOURDIEU, 2007a).
É exatamente essa filosofia 🍊 das práticas sociais expressa nessa linha teórica que apresentaremos como proposta alternativa para balizar futuros estudos na área de políticas 🍊 públicas de esporte e lazer no Brasil.
Trata-se de, a partir do estado da arte das pesquisas em políticas públicas de 🍊 esporte e lazer no Brasil, apontar lacunas e fragilidades, e propor uma alternativa inicial de leitura da realidade social a 🍊 partir dos pressupostos de Pierre Bourdieu.
Nesse sentido, entende-se que o fenômeno social das políticas públicas de esporte e lazer, bem 🍊 como seu tratamento científico por parte dos pesquisadores, estão ontologicamente imbricados, o que nos faz remeter, no decorrer do texto, 🍊 à pratica dos políticos e gestores, bem como à pesquisa sobre o assunto.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER E A 🍊 TEORIA DOS CAMPOS DE PIERRE BOURDIEU
Um dos principais desafios das Ciências Sociais, segundo Bourdieu, seria estudar a constituição e os 🍊 mecanismos que perpetuam as formas de dominação das desigualdades sociais, bem como torná-las mais transparentes e de fácil compreensão por 🍊 parte das pessoas.
Daí o papel dos pesquisadores em efetivar a análise das posições relativas e das relações objetivas expressas na 🍊 sociedade.
Posições e relações estas que se estabelecem a partir de trocas simbólicas de manutenção e de reconhecimento das distâncias sociais, 🍊 as quais, por brazino777 foguete vez, são determinadas pela concorrência e apropriação de bens através do acúmulo de capital econômico, social, 🍊 cultural, entre outros.
Para tal empreendimento, Bourdieu inscreve seus pressupostos teóricos em um modelo de análise que envolve agentes sociais, estruturas 🍊 e disposições.
Em síntese, seu modelo oferece categorias interpretativas da realidade, desenvolvidas em outras áreas de conhecimento e que são cabíveis 🍊 para análise das questões que permeiam a discussão do esporte (MARCHI JR.
, 2001), assim como das políticas públicas.
Um primeiro aspecto 🍊 metodológico central a ser recuperado da análise bourdieusiana, é que para se compreender devidamente o sentido e funcionamento dos mais 🍊 distintos campos - a primeira noção sobre a qual iremos nos debruçar - se faz necessário entender as relações entre 🍊 as posições ocupadas pelos agentes e as disposições.
Em "Os usos sociais da ciência", Bourdieu (2004c) situa, a partir de uma 🍊 discussão sobre as condições sociais da produção do conhecimento, de forma bastante didática, entre quais mediações teóricas se localiza a 🍊 noção de campo.
Para isso, apresenta duas formas de entendimento das produções culturais, para na sequência introduzir a dimensão do campo 🍊 na discussão.
Uma primeira forma de apreciação das obras culturais é retratada nas palavras do autor:
Grosso modo, há, de um lado, 🍊 os que sustentam que, para compreender a literatura ou a filosofia, basta ler os textos.
Para os defensores desse fetichismo do 🍊 texto autonomizado que floresceu na França com a semiologia e que refloresce hoje em todos os lugares do mundo com 🍊 o que se chama de pós-modernismo, o texto é o alfa e o ômega e nada mais há para ser 🍊 conhecido, quer se trate de um texto filosófico, de um código jurídico ou de um poema, a não ser a 🍊 letra do texto (BOURDIEU, 2004c, p.19).
Em oposição, outra corrente tem como premissa que o entendimento das produções culturais está subordinado 🍊 à compreensão das condições macroestruturais da sociedade, uma tradição que, enfim, "frequentemente representada por pessoas que se filiam ao marxismo, 🍊 quer relacionar o texto ao contexto e propõe-se a interpretar as obras colocando-as em relação com o mundo social ou 🍊 o mundo econômico" (BOURDIEU, 2004c, p.19).
Bourdieu parece não compartilhar com nenhuma das duas vertentes, e como alternativa apresenta a noção 🍊 de campo:
É para escapar a essa alternativa que elaborei a noção de campo.
É uma ideia extremamente simples, cuja função negativa 🍊 é bastante evidente.
Digo que para compreender uma produção cultural (literatura, ciências, etc.
) não basta referir-se ao conteúdo textual dessa produção, 🍊 tampouco referir-se ao contexto social contentando-se em estabelecer uma relação direta entre o texto e o contexto (BOURDIEU, 2004c, p.20).
Amparados 🍊 nessas constatações de Bourdieu, podemos dizer que as análises de políticas públicas de esporte e lazer que se constituem como 🍊 relatos de experiências, bem como as que privilegiam os efeitos da macroestrutura econômica e social sobre as políticas, não nos 🍊 satisfazem na explicação do referido fenômeno.
Existe um espaço intermediário, chamado de campo (nesse caso subcampo das políticas públicas de esporte 🍊 e lazer), que deve ser mais bem interpretado, tanto na brazino777 foguete dinâmica interna, sob a lógica do Estado, como na 🍊 brazino777 foguete relação com o restante da sociedade.
Além disso, a relação direta entre texto e contexto provoca aquilo que Bourdieu (2004c, 🍊 p.
20) chama de "erro do curto-circuito", isto é, um[...
] erro que consiste em relacionar uma obra musical ou um poema 🍊 simbolista com as greves de Anzim, como fazem certos historiadores da arte ou da literatura.
Minha hipótese consiste em supor que, 🍊 entre este dois pólos, muito distanciados, entre os quais se supõe, um pouco imprudentemente, que a ligação possa se fazer, 🍊 existe um universo intermediário que chamo o campo literário, artístico, jurídico ou científico, isto é, o universo no qual estão 🍊 inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem a arte, a literatura ou a ciência.
Este é um 🍊 mundo social como os outros, mas que obedece a leis sociais mais ou menos específicas.
Por mais que não se possam 🍊 desconsiderar as condições macroestruturais da sociedade, a forma com que as mesmas refletirão em determinada questão social dependerá, em última 🍊 instância, da dinâmica própria do campo em questão, que goza de certa autonomia e leis próprias de funcionamento.
Nas palavras de 🍊 Bourdieu (2004c, p.20-21):
A noção de campo está aí para designar esse espaço relativamente autônomo, esse microcosmo dotado de suas leis 🍊 próprias.
Se, como o macrocosmo, ele é submetido a leis sociais, essas não são as mesmas.
Se jamais escapa às imposições do 🍊 macrocosmo, ele dispõe, com relação a este, de uma autonomia parcial mais ou menos acentuada.
E uma das questões que surgirão 🍊 a propósito dos campos (ou subcampos) científicos será precisamente acerca do grau de autonomia que eles usufruem.
A questão da autonomia 🍊 do campo diz respeito à capacidade de determinado espaço social ressignificar as pressões externas, de acordo com a dinâmica própria 🍊 daquele espaço, ou seja, de modo a se depreender "quais são os mecanismos que o microcosmo aciona para se libertar 🍊 dessas imposições externas e ter condições de reconhecer apenas suas próprias determinações internas" (BOURDIEU, 2004c, p.21).
Essas pressões externas sobre o 🍊 subcampo das políticas públicas de esporte e lazer no Brasil, se efetivam especialmente por intermédio de questões econômicas (com as 🍊 apontadas por VERONEZ, 2005), político partidárias (CAVICHIOLLI, 1996), das funções utilitaristas e assistencialistas atribuídas ao esporte e lazer (LINHALES, 2001), 🍊 ou como recurso para dissimular ou resolver mazelas sociais, como fome, desemprego e violência (MASCARENHAS, 2006).
As pressões externas, independente de 🍊 brazino777 foguete natureza, só se exercem por intermédio do campo, são mediadas pela lógica do campo e muito dificilmente atingirão os 🍊 vários espaços sociais de forma homogênea.
As determinações externas invocadas pelos marxistas - por exemplo, o efeito das crises econômicas, das 🍊 transformações, técnicas ou das revoluções políticas - só podem exercer-se pela intermediação das transformações da estrutura do campo resultantes delas.
O 🍊 campo exerce um efeito de refração (como um prisma): portanto, apenas conhecendo as leis específicas de seu funcionamento (seu "coeficiente 🍊 de refração", isto é, seu grau de autonomia) é que se pode compreender as mudanças nas relações entre escritores, entre 🍊 defensores dos diferentes gêneros (poesia, romance e teatro, por exemplo) ou entre diferentes concepções artísticas (a arte pela arte e 🍊 a arte social, por exemplo), que aparecem, por exemplo, por ocasião de uma mudança de regime político ou de uma 🍊 crise econômica (BOURDIEU, 2007d, p.61).
Essa autonomia do campo, segundo Bourdieu (2004c, p.
22), pode então ser verificada através da capacidade de 🍊 refratar, re-traduzindo sob uma forma específica as pressões e demandas externas:
Dizemos que quanto mais autônomo for um campo, maior será 🍊 o seu poder de refração e mais as imposições externas serão transfiguradas, a ponto, freqüentemente, de se tornarem perfeitamente irreconhecíveis.[...
] 🍊 Inversamente, a heteronomia de um campo manifesta-se, essencialmente, pelo fato de que os problemas exteriores, em especial os problemas políticos, 🍊 aí se exprimem diretamente.
No caso das políticas públicas de esporte e lazer, tem-se a impressão que o subcampo onde se 🍊 formula e se implementam as políticas é marcado por uma grande heteronomia, uma vez que as coações externas são constantes 🍊 em seu funcionamento.
Tal abertura, por brazino777 foguete vez, abre espaço para que o esporte seja usado como moeda de troca eleitoral, 🍊 com um tom salvacionista (LINHALES, 2001), ou exclusivamente sob a ótica do esporte de alto rendimento (VERONEZ, 2005).
Essa constatação, por 🍊 brazino777 foguete vez, poderia conduzir a uma visão pessimista em relação às políticas públicas de esporte e lazer.
Porém, tem-se que pensar 🍊 a dimensão dos agentes na constituição do campo: "os agentes - por exemplo, as empresas no caso do campo econômico 🍊 - criam o espaço, e o espaço só existe (de alguma maneira) pelos agentes e pelas relações objetivas entre os 🍊 agentes que aí se encontram" (BOURDIEU, 2004c, p.23).
Ou seja, o campo não é algo estático ou estabelecido a priori, é 🍊 dinâmico e está em constante transformação e movimento, principalmente pela ação dos agentes.
O subcampo das políticas públicas de esporte e 🍊 lazer, nesse sentido, não pode ser encarado como imutável e estático, foco de constantes críticas de autores que estudam a 🍊 área.
Poderá ser foco de mudanças, especialmente pela ação dos agentes.
Há uma relação constante e dialética entre a pressão do campo 🍊 e a ação dos agentes:
Essa estrutura não é imutável e a topologia que descreve um estado de posições sociais permite 🍊 fundar uma análise dinâmica da conservação e da transformação da estrutura da distribuição das propriedades ativas e, assim, do espaço 🍊 social.
É isso que acredito expressar quando descrevo o espaço social global como um campo, isto é, ao mesmo tempo, como 🍊 um campo de forças, cuja necessidade se impõe aos agentes que nele se encontram envolvidos, e como um campo de 🍊 lutas, no interior do qual os agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados conforme brazino777 foguete posição na estrutura do 🍊 campo de forças, contribuindo assim para a conservação ou a transformação de brazino777 foguete estrutura (BOURDIEU, 2007c, p.50).
A ação dos agentes 🍊 e a estrutura da relação entre os mesmos estão diretamente relacionadas à posição que cada um dos agentes assume no 🍊 interior do espaço social.
Por conseguinte, a posição e consequente peso de cada agente (indivíduo ou instituição) no campo está relacionada 🍊 ao volume de seu capital, que pode assumir várias formas.
De acordo com o peso relativo do agente no campo, teremos 🍊 a amplitude da pressão estrutural do campo exercida sobre ele.
Quanto mais frágil o agente na composição do campo, maior será 🍊 a influência estrutural do espaço sobre o mesmo; de forma contrária, quanto maior o peso do agente, mais autonomia este 🍊 desfruta.
Cabe refletir qual tipo de capital é hoje mais relevante para os agentes no interior do subcampo das políticas públicas 🍊 de esporte e lazer.
Se, em outros momentos históricos, pensar políticas públicas de esporte e lazer era algo relegado a leigos, 🍊 especialmente pela indicação de cargos a partir de critérios político-partidários, gradualmente os especialistas vêm ocupando esse espaço.
Pode ser um indício 🍊 de que o capital político perde um pouco o peso no interior do subcampo frente ao capital cultural específico.
As estratégias 🍊 dos agentes e das instituições que estão envolvidos nas lutas [...
], isto é, suas tomadas de posição [...
], dependem da 🍊 posição que eles ocupem na estrutura do campo, isto é, na distribuição do capital simbólico específico, institucionalizado ou não (reconhecimento 🍊 interno ou notoriedade externa), e que, através da mediação das disposições constitutivas de seus habitus (relativamente autônomo em relação à 🍊 posição), inclina-os seja a conservar seja a transformar a estrutura desta distribuição, logo, a perpetuar as regras do jogo ou 🍊 a subvertê-las.
(BOURDIEU, 2007d, p.63-64).
Essa passagem adiciona à discussão o entendimento de que a posição dos agentes está relacionada à distribuição 🍊 do capital simbólico específico daquele campo.
Em outras palavras, isso indica que a concentração de capital de um tipo específico pelo 🍊 agente singular é o que determinará o lugar, no contínuo entre o polo dominante e dominado, ocupado pelo mesmo.
Além disso, 🍊 o habitus inerente aquele campo intermediará o agir dos agentes, inclinando-o a tomadas de posição conservadoras ou transformadoras, em função 🍊 da posição ocupada.
Pode-se observar no interior do subcampo das políticas públicas de esporte e lazer, disputas constantes entre agentes estabelecidos 🍊 e recém chegados, que galgam posições e tomam decisões de acordo com brazino777 foguete origem e posição.
A constituição desses habitus, das 🍊 formas de disputa legítimas, e maneiras de agir dos agentes, por brazino777 foguete vez, estão relacionadas à história do campo:
Mas essas 🍊 estratégias, através dos alvos das lutas entre os dominantes e os pretendentes, as questões a propósito das quais eles se 🍊 enfrentam, também dependem do estado da problemática legítima, isto é, do espaço de possibilidades herdado de lutas anteriores, que tende 🍊 a definir o espaço de tomadas de posição possíveis e a orientar assim a busca de soluções e, em consequência, 🍊 a evolução de produção.
(BOURDIEU, 2007d, p.64).
Importante ressaltar que as pessoas que constituem o campo são tratadas não apenas como um 🍊 número no interior de um espectro maior, como uma classe social, por exemplo.
Cada um dos gestores, políticos, esportistas, técnicos, pesquisadores 🍊 são únicos e se movem em direções específicas, normalmente em situação ativa no jogo social.
Bourdieu trata-as como agentes ativos na 🍊 constituição e desenvolvimento do campo.
Portanto, e segundo a matriz teórica recuperada nesse artigo, é importante conduzir uma pesquisa compreendendo a 🍊 lógica e as leis de funcionamento do campo, bem como considerar que os agentes ativos no processo são capazes de 🍊 ressignificar e atuar de forma a legitimar ou modificar a estrutura daquele espaço social.
Dito de outro modo, o que o 🍊 pesquisador, impreterivelmente, deve se preocupar em recuperar mediante brazino777 foguete análise é as regras, bem como o papel de cada agente 🍊 no "jogo".
As regras do espaço social estão estabelecidas a priori.
Não obstante, os agentes por conta de suas propriedades - acúmulo 🍊 de capital, experiências, posição relativa - podem agir das mais diferentes formas.
Exemplo prático dessa relação entre a estrutura social e 🍊 a posição ativa dos agentes pode ser observado nas Conferências Nacionais de Esporte, onde agentes, com interesses e posições distintas 🍊 no subcampo, movem-se e tomam decisões sob diferentes pontos de vista, que ao final do processo, dão uma perspectiva de 🍊 nova conformação do espaço social.
A posição passiva dos agentes em relação às estruturas neste caso é descartada:
Onde todo mundo falava 🍊 de "regras", de "modelo", de "estrutura", quase indiferentemente, colocando-se num ponto de vista objetivista, o de Deus Pai olhando os 🍊 atores sociais como marionetes cujos fios seriam as estruturas, hoje todo mundo fala de estratégias matrimoniais (o que implica situar-se 🍊 no ponto de vista dos agentes, sem por isso transformá-los em calculadores racionais) (BOURDIEU, 2004a, p.21).
Mais do que a obediência 🍊 às regras, ou ações orquestradas pelo inconsciente, o agir dos agentes está diretamente relacionado ao senso de jogo, e a 🍊 natureza socialmente construída, sob a qual Bourdieu constrói o conceito de habitus.
Entende-se habitus como[...
] um sistema de disposições adquiridas pela 🍊 aprendizagem implícita ou explicita que funciona como um sistema de esquemas geradores e gerador de estratégias que podem ser objetivamente 🍊 afins dos interesses objetivos de seus autores sem terem sido expressamente concebidas para este fim (BOURDIEU, 1983, p.94).
Habitus é algo 🍊 adquirido, ligado à história individual e coletiva, bem como ao capital adquirido.
A posição ativa dos agentes está diretamente ligada ao 🍊 habitus adquirido:
Os "sujeitos" são, de fato, agentes que atuam e que sabem, dotados de um senso prático (título que dei 🍊 ao livro no qual desenvolvo esta análise), de um sistema adquirido de preferências, de princípios de visão e divisão (o 🍊 que comumente chamamos de gosto), de estruturas cognitivas duradouras (que são essencialmente produto da incorporação de estruturas objetivas) e de 🍊 esquemas de ação que orientam a percepção da situação e a resposta adequada (BOURDIEU, 2007c, p.42).
Para jogar o jogo das 🍊 políticas públicas de esporte e lazer tem-se que incorporar uma série de disposições práticas, próprias do jogo, para se inserir 🍊 e ser entendido como jogador.
Este é um conceito central presente já nos primeiros trabalhos de Bourdieu.
Foi construído para, entre outras 🍊 coisas, dar conta da dicotomia entre indivíduo e sociedade.
"O exemplo mais típico é a oposição, absolutamente absurda em termos científicos, 🍊 entre indivíduo e sociedade, oposição que a noção de habitus enquanto social incorporado, logo, individualizado, visa superar" (BOURDIEU, 2004a, p.45).
Além 🍊 disso, produz estratégias, práticas e consumos.
Sendo produto da necessidade objetiva, o habitus, necessidade tornada virtude, produz estratégias que, embora não 🍊 sejam produto de uma aspiração consciente de fins explicitamente colocados a partir de um conhecimento adequado das condições objetivas, nem 🍊 de uma determinação mecânica de causas, mostrando-se objetivamente ajustadas à situação (BOURDIEU, 2004a, p.23).
O habitus é ajustado à situação justamente 🍊 porque ambos são gerados socialmente, e o espaço dos possíveis é limitado pela extensão daquele espaço social.
Um recém-chegado provavelmente não 🍊 terá grande êxito em suas tomadas de decisão, uma vez que o habitus ainda não foi incorporado.
Por mais racional que 🍊 seja brazino777 foguete ação, ela pode gerar uma estratégia não totalmente adequada, uma vez que a ação não tem a razão 🍊 como princípio.
Esses novos agentes passam por um período de adaptação no interior do subcampo das políticas públicas de esporte e 🍊 lazer, agregando formas de agir provenientes dos campos burocráticos, político, esportivo, entre outros.
É o "senso de jogo", ou habitus, que 🍊 orquestra estas ações:
A ação comandada pelo "sentido de jogo" tem toda a aparência da ação racional que representaria um observador 🍊 imparcial, dotado de toda informação útil e capaz de controlá-la racionalmente.
E, no entanto, ela não tem a razão como princípio.(...
) 🍊 As condições para o cálculo racional praticamente nunca são dadas na prática: o tempo é contado, a informação é limitada, 🍊 etc.
E, no entanto, os agentes fazem, com muito mais frequência do que se agissem ao acaso, "a única coisa a 🍊 fazer" (BOURDIEU, 2004a, p.23).
Esta incorporação da estratégia correta, não sendo nem sempre a mais racional, é permeada pelo habitus adquirido 🍊 pelos agentes.
No caso do espaço onde se tomam decisões relativas às políticas públicas de esporte e lazer, o senso prático, 🍊 ou habitus, parece estar bastante incorporado pelos agentes que dele fazem parte, uma vez que as decisões são tomadas dentro 🍊 de uma regularidade esperada.
Porém, isso não quer dizer que a incorporação do habitus conduza a tomada de decisão mais adequada 🍊 do ponto de vista do Estado como espaço da primazia do público.
O continuismo nas ações do poder público referente ao 🍊 esporte e ao lazer, bem como a ótica do empirismo no desenvolvimento das ações, pode mostrar um lado negativo da 🍊 incorporação do habitus sem a necessária reflexão sobre as ações.
Isso pode ser confirmado por uma agenda de pesquisas na área 🍊 que dê voz aos agentes que compõe o subcampo das políticas públicas de esporte e lazer.
O conceito se situa exatamente 🍊 na posição de intermediador entre o agente, os grupos sociais e o campo, sendo portanto diferenciado e diferenciador, produto e 🍊 produtor, fruto das relações e construções dos agentes.
Parece-nos ser adequado focar as atenções das pesquisas em políticas públicas de esporte 🍊 e lazer nesse ponto, onde se engendrar e se efetivam as ações, fruto das tomadas de decisões dos agentes.
Construir a 🍊 noção de habitus como sistema de esquemas adquiridos que funciona ao nível prático como categorias de percepção e apreciação, ou 🍊 como princípios de classificação e simultaneamente como princípios organizadores da ação, significava construir o agente social na brazino777 foguete verdade de 🍊 operador prático de construção de objetos (BOURDIEU, 2004a, p.26).
As posições dos agentes no interior do campo ou subcampo, por brazino777 foguete 🍊 vez, estão diretamente relacionadas à posse do capital.
O espaço social é construído de tal modo que os agentes ou os 🍊 grupos são aí distribuídos em função de brazino777 foguete posição nas distribuições estatísticas de acordo com os dois princípios de diferenciação 🍊 [...
] - o capital econômico e o capital cultural.
(BOURDIEU, 2007b, p.19).
O capital - que pode existir no estado objetivado, em 🍊 forma de propriedades materiais (econômico) ou, no caso do capital cultural, no estado incorporado, e que pode ser juridicamente garantido, 🍊 assim como outras formas de capital, - representa um poder sobre o campo (num dado momento) e, mais precisamente, sobre 🍊 o produto acumulado do trabalho passado (em particular sobre o conjunto dos instrumentos de produção) (BOURDIEU, 2004b).
As espécies de capital, 🍊 a maneira dos trunfos num jogo, são os poderes que definem as probabilidades de ganho num campo determinado (a cada 🍊 campo ou subcampo corresponde uma espécie de capital particular, que ocorre como poder e como coisa em jogo, neste campo), 🍊 contribuindo deste modo para determinar a posição no espaço social (BOURDIEU, 2004b).
Outras formas de capital (social, político, esportivo) podem ser 🍊 tão ou mais importantes que o capital econômico e cultural, de acordo com o espaço social e o objeto em 🍊 disputa, que se somam enquanto capital global do agente.
Porém, de maneira geral,
No espaço social, os agentes são distribuídos, na primeira 🍊 dimensão, de acordo com o volume global de capital (desses dois tipos diferentes) que possuam e, na segunda dimensão, de 🍊 acordo com a estrutura de seu capital, isto é, de acordo com o peso relativo dos diferentes tipos de capital, 🍊 econômico e cultural, no volume global de seu capital (BOURDIEU, 2007b, p.19)
Essas considerações se aplicam aos vários espaços sociais, onde 🍊 o posicionamento dos agentes e, consequentemente, suas tomadas de decisão estão relacionadas à posse global de capital, bem como à 🍊 posse relativa de capital pertinente aquele campo.
No caso das políticas públicas de esporte e lazer, podemos destacar que, muitas vezes, 🍊 a posse de algumas variedades de capital, especialmente o capital social, político, e esportivo, por vezes se sobrepõe ao capital 🍊 cultural específico na configuração do subcampo.
Deste modo, é perfeitamente compreensível o fato de ex-atletas, gestores políticos e dirigentes esportivos ocuparem 🍊 os cargos reservados à formulação e implementação de políticas públicas de esporte e lazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção científica sobre políticas públicas 🍊 de esporte e lazer no Brasil atualmente se ramifica em duas perspectivas principais.
De um lado da balança, temos o olhar 🍊 marxista que privilegia as condições macroestruturais da sociedade e como as mesmas atingem as políticas de esporte e lazer.
De outro, 🍊 temos a exposição de relatos ou dados empíricos que não estabelecem um diálogo mais efetivo e consistente com as teorias.
Como 🍊 alternativa a esse embate, procuramos apresentar no presente artigo a possibilidade da apropriação de alguns conceitos de Bourdieu, como noções 🍊 operatórias e operantes de análise para estudar a área.
Em síntese, percebemos que a arquitetura teórica trabalhada pelo autor nos possibilita 🍊 estudar as políticas públicas de esporte e lazer contemplando tanto a filosofia da estrutura social quanto a filosofia das experiências 🍊 primeiras dos agentes.
Além disso, a abordagem de Bourdieu conserva como imperativo o fato de considerar que todas as sociedades se 🍊 apresentam como espaços sociais, isto é, enquanto estruturas diferenciadas e diferenciadoras que não podemos compreender verdadeiramente a não ser construindo 🍊 o princípio gerador que funda estas diferenças na objetividade.(BOURDIEU, 2007c).
Princípio que, inclusive, é o da estrutura da distribuição das formas 🍊 de poder ou dos tipos de capital que circulam no universo social considerado - e que variam, portanto, de acordo 🍊 com os lugares e os momentos.
Acresça-se em última instância a essa análise, que a posição ocupada no espaço social, isto 🍊 é, na estrutura de distribuição dos diferentes tipos de capital, comanda as representações desse espaço e as tomadas de posição 🍊 nas lutas para conservá-lo ou transformá-lo, ou seja, de acordo com a posição dominante ou dominada que se situam os 🍊 agentes no interior do campo.(BOURDIEU, 2007b).
Pensadas por essa ótica, as políticas públicas constituem-se como lócus sociais de investimento dos agentes 🍊 no intuito de atrair um lucro de distinção material e simbólica às suas posições objetivas.
Dadas essas considerações abrangidas, tendemos a 🍊 acreditar que a sociologia reflexiva dos campos de Pierre Bourdieu, pautada na relação de cumplicidade ontológica entre as estruturas objetivas 🍊 e as estruturas incorporadas, constituiu uma interessante possibilidade teórico-metodológica para subsidiar a leitura das políticas públicas de esporte e lazer 🍊 no Brasil, no sentido de avançar na apreensão e interpretação dos fênomenos sociais, bem como na amplitude e contingência dos 🍊 processos políticos.
Recebido em: 27 abr.2010
Aprovado em: 24 ago.2010
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